domingo, 22 de maio de 2011

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?


(O eco de suas palavras não repercute em nada...)



Hoje o que mais se noticia no Brasil são as possíveis mudanças no Código Florestal (PL 1.876/99). Ou será que isso foi ontem? Acredito que nesse momento deve ter surgido algum outro assunto que chame a atenção da mídia e população brasileiras. Talvez algum ex BBB tenha sido fotografado seminu ou foi à marcha da maconha em SP, tida por muitos como uma aglomeração de vagabundos, metidos a hippies pós-modernos, que queriam apenas uma desculpa para ficar high...
O fato, é que alguns deputados e senadores (eleitos para representar uma minoria elitista) tentaram, na semana retrasada, nos impor “goela a baixo” esse novo conjunto de normas que, por sinal, descredencia (e muito) nosso país no que se refere à conservação da biodiversidade, à manutenção de serviços ecossistêmicos e na busca por uma sociedade ambientalmente sustentada. Mas, o que estamos fazendo a respeito? Quais são as notícias que lemos ou ouvimos por aí? E, novamente, como é de costume em nossos dias, o fervor de poucos na busca por um país justo e igualitário é escondido na neblina das notícias de anteontem, porque hoje o que interessa é o futebol. Ah, o futebol! Esse esporte tão belo e aglutinador das massas! Mas, por que só nos unimos em momentos de festa ou de mínima importância? Não existiria uma maneira melhor de exercermos nossa cidadania? Enfim, meu intuito aqui não é suscitar uma crítica à sociedade brasileira nem tampouco ao supracitado projeto de lei (o qual já passou por sabatina exaustiva de pesquisadores renomados), mas sim promover a reflexão e o auto-exame.
Nas listas de discussões das quais participo via internet e, mesmo nos corredores da universidade e na casa de amigos, tenho ouvido e refletido sobre vários argumentos e perspectivas. Entretanto, o que mais me chama atenção não é o fato da maioria de nossa população ser totalmente apolitizada e recusar-se a discutir tais assuntos. Ora, como poderíamos existir e progredir como sociedade sem refletirmos sobre nossas ações políticas? Uma vez que, essa nos permeia em todos os aspectos, desde a escolha do síndico do condomínio a aprovação daquela pesquisa científica que pretendemos realizar em determinada área de proteção ambiental. Novamente, esse fato já não me perturba tanto, pois poderemos promover discussões sadias com aqueles que realmente as procuram. O que me deixa consternado é tamanho individualismo do qual nos utilizamos para formular nossas opiniões, sem antes considerarmos a plenitude das possibilidades e real repercussão que determinado assunto terá. Já bastam que assim o sejam aqueles que, infelizmente, nos representam enquanto nação. Esses ditos, que sustentamos à duras penas (é justo que se diga) para unicamente se embriagarem de poder e defenderem interesses escusos. O que me transtorna, são a apatia e a condescendência com que aceitamos as falcatruas e descalabros praticados por aqueles que foram indicados como zeladores de nossos interesses. Até quando nos permitiremos manipular e sermos tratados como gentis ignorantes? Ora, será que nunca iremos perceber que uma democracia se erege pelo povo e que depende deste povo fazê-la justa e, verdadeiramente, democrática? Percebam que não digo para que nos filiemos a uma coligação partidária qualquer e venhamos a dizer que agora sim (e unicamente assim) estamos contribuindo para o enriquecimento das discussões políticas em nosso país. Até porque, de dogmas já bastam aqueles que nos foram culturalmente inculcados durante a infância e nos fizeram pensar, por anos, que beber vitamina de manga fazia mal à saúde. Vejam, não sou contrário aos paradigmas e àquele que se interessa em defender os quais norteiam sua conduta, assim como o faço nesse momento. Contudo, acredito que o ser dogmatizado já não pensa por si próprio e jamais deveríamos rubricar uma ideia que não se originou em nossa mente.
A real intenção desse texto consiste em alertar para o fato de que só existiremos como nação justa e igualitária no momento em que nos fizermos ouvir, no momento em que assumirmos o controle dos fatos sem simplesmente nos deixarmos levar pela maré e, principalmente, compreendermos que só seremos suficientemente fortes quando aprendermos a ouvir e refletir sobre as diferentes opiniões na busca por um ideal comum que nos leve a pleitear em uníssono.
Afinal de contas, por quem é mesmo que os sinos insistem em dobrar? É para que eu ou você, ou ainda o “Zé da Silva” acorde pra mais um dia de trabalho. Ou é para que nosso Brasil afinal desperte, em todo o seu esplendor, deste sonho intenso no qual adormecemos a mais de 500 anos em um raio vívido de liberdade e justiça. E que, mais uma vez, possamos ouvir deste belo povo o brado heróico retumbante!






Leonardo Teixeira
22/05/11

Nenhum comentário: